terça-feira, dezembro 09, 2014

1968: quando a ditadura vira arte

Por Carynne Alves 

Exposição no Centro Cultural Justiça Federal relembra o contexto social dos militares no poder



Com o início das férias de verão, a busca não só pelas famosas praias tomam conta do Rio. Rica em diversidade, a Cidade Maravilhosa oferece inúmeros centros culturais, uns mais conhecidos que outros. O Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), à sombra da imponente Biblioteca Nacional na Avenida Rio Branco, propõe exposições que remetem à discussões contemporâneas, buscando um maior destaque no cenário carioca.

| Estrutura

Idealizado originalmente pelo arquiteto Adolpho Morales de Los Rios 
para ser o Palácio Arquiepiscopal, o prédio abrigou o STF de 1909 a 1960.
(Foto: Custodio Coimbra / O Globo)
O antigo prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), reaberto em abril de 2001, deu origem ao CCJF. Aos amantes da arquitetura, vale a pena conferir seu processo de restauração, que manteve as características históricas da construção realizada em 1909. Mesmo olhos destreinados ficam atentos à fachada, às portas, escadarias, ao teto, e principalmente, às janelas e seus vitrais. 

Para quem está atrás de um passeio completo, o Centro oferece salas de consultas e leituras integrados à Biblioteca, onde os visitantes têm acesso à Internet. Ele também oferece ao público galerias que abrigam amostras, salas de curso e de teatro e cinema, para peças e apresentações, além de uma lojinha de souvenirs e cafeteria. O espaço aceita visitas de terça a domingo, das 12h às 19h.

| Exposição

José Inácio era um jovem aluno em 1968 e registrou o que ocorreu após o assassinato de outro estudante pela polícia militar. (Foto: Carynne Alves)

No último mês de outubro, o CCJF recebeu a interessante exposição chamada 1968, com foco emu imagens inéditas dos movimentos políticos ocorridos no ano em questão no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar. Com imagens no mínimo impactantes, a sala da exposição era a mais silenciosa de todo o prédio. 

As fotografias de José Inacio Parente retratam, por exemplo, os eventos contra repressão e a censura, os desdobramentos do assassinato do estudante Edson Luiz em março de 68, como os movimentos estudantis e a Passeata dos Cem Mil, ocorrida em junho. A fotos marcantes do velório e da missa do sétimo dia de Edson, os olhares da população, e sobretudo as cenas dos embates dos manifestantes da Passeata com a polícia, leva o espectador a refletir sobre o período histórico e entender mais sobre o contexto da época.

| Arte Que Vive

Estudantes de todas as áreas, inclusive do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio, se interessam pela exposição. (Foto: Carynne Alves)

No entra e sai de quem visitava o local, o semblante era o mesmo: indignação. Nos sussurros audíveis nos corredores, alguns se perguntavam se aquilo teria ocorrido de fato, comentavam a coragem do fotógrafo ao retratar tudo em um momento tão opressor ou questionavam como a situação chegou àquele ponto. 

O maior diferencial do CCJF é receber, na maioria das vezes, obras e exposições distintas, significantes e reflexivas, incitando o pensamento sobre cada objeto, mesmo após o tour. A experiência remete a entrar em um livro de História do Brasil, com o poder de nos engolir à sua própria realidade a qualquer momento.


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